Aviso: O conteúdo aqui apresentado tem uma finalidade exclusivamente informativa sobre um tipo específico de jogo e como jogá-lo. O objetivo deste conteúdo não é nem promover nem disponibilizar um tipo de jogo, mas simplesmente informar o jogador acerca de como jogá-lo.
- O Mental Game, ou Jogo Mental em português, refere-se ao estado mental em que um jogador se encontra quando joga poker.
- Trabalhar o seu mental game é o processo em que um jogador tenta ganhar uma disposição mental forte de forma a que coisas como o tilt, cansaço, distração e falta de motivação o afetem. Lidar com tais problemas é referido como “trabalhar o C-game”.
- Apesar de tal não parecer óbvio, os nossos A-game e C-game devem ser trabalhados e melhorados separadamente e, muitas vezes, em alturas diferentes. O trabalho no nosso C-game é muito mais eficiente quando o nosso estado mental está a ser colocado à prova como, por exemplo, durante uma downswing.
- Um estado mental ótimo nas mesas é algo que desenvolvemos ao longo do tempo e com muito trabalho e é importante não desanimarmos com pequenas recaídas em sessões que correm menos bem a esse nível. Aprender a manter a calma sob pressão no poker é importantíssimo!
Neste artigo:
- O que é o Mental Game no Poker?
- Mental Game Noutros Desportos de Competição
- Explicação do Mental Game no Poker
- O que é o C-Game?
- Como Treinar o Mental Game
- Melhorar o Nosso A-Game
- Conclusão
O que é o Mental Game no Poker?
O Mental Game, ou Jogo Mental em português, refere-se ao estado mental em que um jogador se encontra quando joga poker. Ter um bom mental game significa que estamos psicologicamente fortes e podemos continuar a jogar a um alto nível apesar das possíveis adversidades com que temos de lidar. Muitos jogadores profissionais dedicam tempo ao treino específico do seu mental game podendo chegar ao ponto de contratar treinadores para treinar apenas essa parte do seu jogo. Há padrões e hábitos que estes jogadores procuram ter, seja antes, durante ou depois das sessões que os ajudam a manter-se no topo do seu jogo.
Mental Game Noutros Desportos de Competição
Não é necessário ser um atleta profissional ou um campeão Olímpico para se ter sucesso na prática dum desporto. Muito menos é necessário ter uma sala cheia de troféus, ganhar um campeonato ou marcar presença na primeira página dum jornal desportivo. Uma das coisas que todos os atletas de sucesso têm em comum, seja aquele que treina para competir pela primeira vez numa maratona ou aquele que compete ao mais alto nível para ganhar medalhas Olímpicas, é a perseverança e compromisso em serem o melhor que podem dentro dos limites daquilo que conseguem alcançar - limites esses que são definidos por outros compromissos, saúde financeira, tempo e, claro, a sua habilidade natural. Eles definem objetivos elevados, mas realistas, treinam e jogam o máximo de tempo possível. Têm sucesso porque perseguem os seus objetivos e desfrutam daquilo que fazem.
Acima de tudo, a sua participação no desporto que escolhem praticar enriquece as suas vidas e acreditam que aquilo que retiram da prática desse desporto compensa o tempo e esforço investido.
Explicação do Mental Game no Poker
Trabalhar o seu mental game é o processo em que um jogador tenta ganhar uma disposição mental forte de forma a que coisas como o tilt, cansaço, distração e falta de motivação o afetem. Lidar com tais problemas é referido como “trabalhar o C-game”.
Mais do que simplesmente lidar com os problemas acima referidos, um jogador que procura melhorar o seu mental game também melhora a qualidade do seu A-game. Através da manipulação de variáveis externas, os jogadores procuram utilizar conhecimento sobre psicologia de forma a construir o melhor estado mental para jogar poker.
O que é o C-game?
Jogar o C-game pode ser considerado jogar em tilt mas, para alguns jogadores, jogar em tilt pode também descrever algo consideravelmente pior do que o seu C-game. A verdade é que qualquer letra pode ser usada para descrever a qualidade do nosso jogo dependendo do nosso estado mental, sendo que o A-game é o melhor que sabemos jogar, B-game vem a seguir, C-game, D-game e por aí em diante. No fundo, estes são termos relativos que podem ter significados diferentes dependendo do jogador. Ainda assim, A-game e C-game são os mais comummente utilizados.
Apesar de C-game poder referir-se a erros estratégicos cometidos durante uma sessão, o que é importante ter em mente é que esses erros aconteceram devido a uma má predisposição psicológica e não a um conhecimento errado sobre a estratégia do jogo. Por exemplo, sabíamos qual a melhor jogada possível, mas porque estávamos a jogar o nosso C-game, falhámos a sua correta execução.
Como Treinar o Mental Game
Se tivéssemos de criar uma lista básica com pontos que são importantes trabalhar a nível mental poderíamos resumi-la ao seguinte:
- Manter uma atitude positiva;
- Manter um nível elevado de auto-motivação;
- Definir bons objetivos, mas reais;
- Falar connosco próprios de forma positiva;
- Gerir a ansiedade de forma efetiva;
- Gerir as nossas emoções de forma efetiva;
- Manter a concentração.
No entanto, o trabalho terá de ser muito mais aprofundado do que o acima referido. Apesar de tal não parecer óbvio, os nossos A-game e C-game devem ser trabalhados e melhorados separadamente e, muitas vezes, em alturas diferentes. O trabalho no nosso C-game é muito mais efetivo quando o nosso estado mental está a ser colocado à prova como, por exemplo, durante uma downswing. Tentar lidar com problemas de tilt quando estamos numa fase em que tudo nos corre bem nas mesas é um pouco como aprender a nadar sem utilizar água.
Ainda que alguns problemas de tilt pareçam, à partida, similares, aquilo que nos coloca em tilt pode variar largamente de pessoa para pessoa. Levando isso em conta, o primeiro passo é definir da forma mais exata possível qual o problema. Olhemos para a seguinte lista:
- Como definiríamos o problema? Há diferentes tipos de tilt. Por exemplo, muitos ficam zangados, mas nem todos. Às vezes jogamos o nosso C-game porque estamos simplesmente cansados ou desmotivados. Se calhar estamos com medo de perder dinheiro e jogamos afetados pelo medo. Em cenários onde a raiva é a chave para o problema do nosso Mental Game é ainda necessário estudar a questão mais a fundo: O que é que causa esta emoção negativa? Isto acontece quando as coisas nos correm mal no poker ou perante outro cenário? Perder para tipos específicos de jogadores é o que causa o problema? Perder de formas específicas? Ficamos zangados quando sentimos que cometemos erros estratégicos? Que tipo de erros estratégicos? Temos de estabelecer quais as questões que são mais relevantes para o nosso caso em específico e respondê-las.
- Que pensamentos e sentimentos são gerados pelo problema? Que tipo de emoções experienciamos? Temos de ser o mais específicos possível. Há exemplos de pensamentos exatos que nos passam pela cabeça várias vezes? Exemplo: Após levar uma bad beat dum jogador recreativo pensarmos “Se nem sequer consigo bater este donk, porque é que continuo a jogar Poker?”. Ou se calhar após um período de perdas constantes “Tenho sequer prova de que este site não manipula os resultados?”
- De que forma estes problemas se refletem no nosso jogo a nível estratégico? Assim que conseguimos identificar o problema, é necessário analisar que feito o nosso C-game tem dum ponto de vista generalizado a nível estratégico. Por exemplo, podemos ter tendência de jogar significativamente mais tight quando estamos numa má run. Ou se calhar acontece o contrário e começamos a jogar mais mãos.
- Porque é que o nosso processo de reflexão não é lógico? É importante introduzir afirmações lógicas que nos ajudam a corrigir o nosso problema de mental game e que, por consequência, nos ajudam a menorizar os efeitos negativos a nível estratégico. Exemplo: “É bom que o jogador recreativo tenha tido sorte nesta mão, é isto que os faz voltar todos os dias. Se a variância não existisse, os jogos secavam já que apenas os especialistas jogariam”. “Tenho as minhas estratégias pre-flop bem definidas. Alterá-las para jogar mais ou menos mãos só fará com que ganhe menos dinheiro, não mais”.
- Que ajustes físicos podem ser feitos? É bom estarmos cientes de que existem dois tipos de problema. Problemas mentais e problemas externos (problemas mentais que são causados por fatores externos ao Poker). Por exemplo, se os nossos problemas são criados por não dormirmos o suficiente, a solução não deveria passar por obrigar o cérebro a trabalhar cansado, mas sim criar um horário de deitar e acordar que melhore, efetivamente, esse aspeto na nossa vida.
Estarmos conscientes dos problemas no nosso mental game antes deles ocorrerem e ter um conhecimento preciso de qual o impacto que esses problemas têm no nosso jogo a nível estratégico ajuda-nos a cortar o mal pela raiz. Por exemplo, se sabemos que gostamos de fazer call em rivers com um maior range de mãos quando estamos numa má run, devemos preparar-nos para resistir a esse ajuste negativo para o nosso jogo. “OK, sei que as coisas não me têm corrido bem e eu sei que tenho esta tendência quando estou afetado por isso - tenho de garantir que tal não acontece e que vou fazer fold”.
- Aquecimento (Warmup) e Arrefecimento (Cooldown) - Incorporar o que aprendemos acima em exercícios de warmup ou cooldown pode ajudar-nos. O warmup ou cooldown tratam-se de exercícios antes ou depois da sessão começar, respetivamente, onde podemos rever mãos jogadas anteriormente ou, no caso do warmup, rever as nossas fraquezas mentais e planearmos como vamos reagir caso as coisas nos comecem a correr mal. Existe uma chance muito maior de lidarmos com tilt desta forma, estando preparados.
Podemos ainda criar o hábito de, no final da sessão, como exercício de cooldown, preencher uma folha de que faça parte o seguinte:
Dia e hora:
Duração da sessão:
Dificuldade da sessão: (1 a 10)
Pontuação do nosso mental game: (1 a 10)
Comentários Gerais: Onde podemos apontar qualquer problema relacionado com o nosso C-game que mereça atenção
Melhorar o Nosso A-game
Analisar o nosso A-game é semelhante a analisar o C-game mas ao contrário. Passo a explicar. Em vez de analisarmos aquilo que correu mal e tentar retirá-lo do nosso jogo, analisamos aquilo que correu bem e tentamos que isso se torne numa constante nas nossas sessões.
Por exemplo, pode ajudar pensarmos na última vez que jogámos o nosso melhor jogo. Como é que isso nos fez sentir? Excitados, relaxados? O tempo acelerou ou ficou mais lento? Ficámos de tal forma focados naquilo que estávamos a fazer que perdemos noção do tempo?
A próxima vez que tivermos uma sessão igual, faz sentido pensarmos em que variáveis externas nos ajudaram a atingir um perfeito estado mental e planear explorar o impacto que essas mesmas variáveis terão no nosso jogo no futuro. Por exemplo:
Número de mesas/limites: Acredita-se que é muito mais provável atingirmos o nosso melhor estado mental quando o nível de desafio é o ideal. Por outras palavras, o desafio ser demasiado simples (mesas a menos ou limites demasiado baixos para as nossas capacidades) ou ser demasiado duro (mesas a mais, limites muito altos) vai influenciar o nosso estado mental.
Horário: Podemos chegar à conclusão que jogamos melhor a determinadas horas do dia ou dias da semana dependendo do nosso tipo de calendário. Alguns jogadores jogam melhor de manhã, outros à noite. O objetivo é, de novo, concluir qual funciona melhor para nós e maximizar a probabilidade de atingirmos o nosso A-game.
Sono/Dieta: Para a maioria dos seres humanos, existe uma quantidade determinada de sono exigida por noite que nos ajuda a garantir o melhor desempenho mental. Não é necessariamente um caso de quanto mais, melhor. Apesar de contraproducente, dormir em demasia pode resultar em menores níveis de energia. Dormir pouco afeta a nossa capacidade de concentração o que afeta, obviamente, a capacidade dum jogador de Poker.
Ambiente: Queremos garantir que o ambiente que nos rodeia é livre de distrações. Coisas simples como desligar as notificações do telemóvel ou de qualquer outro programa de comunicação no computador terá um impacto enorme na capacidade dum jogador em atingir o seu A-game. Queremos também libertar a nossa mente de qualquer distração desnecessária. Se a nossa consciência no está a chatear sobre algo externo ao poker será difícil dedicarmos a atenção necessária ao que está a acontecer nas mesas.
Conclusão
A lista acima não é, de todo, exaustiva. O nosso objetivo deverá passar por considerar todas as variáveis possíveis que possam afetar a nossa capacidade de jogar o A-game tão frequentemente quanto possível. Assim que identificarmos essas diferentes variáveis, quereremos fazer tudo o que pudermos para as afinar de forma a aumentar a probabilidade de jogar o melhor que sabemos no maior número de sessões possível. Atingir o nosso A-game com frequência não é algo que simplesmente acontece, é algo sobre o qual temos controlo direto desde que tenhamos conhecimento das variáveis acima referidas.
Gostaria de concluir dizendo que não há um único jogador de Poker no Mundo que consiga atingir um mental game perfeito em todas as sessões sem exceção. Um estado mental ótimo nas mesas é algo que desenvolvemos ao longo do tempo e com muito trabalho e é importante não desanimarmos com pequenas recaídas em sessões que correm menos bem a esse nível. Não existe um truque de magia que nos faz atingir um mental game perfeito, é algo que atingimos através de trabalho árduo e diário.