Aviso: O conteúdo aqui apresentado tem uma finalidade exclusivamente informativa sobre um tipo específico de jogo e como jogá-lo. O objetivo deste conteúdo não é nem promover nem disponibilizar um tipo de jogo, mas simplesmente informar o jogador acerca de como jogá-lo.
Atualizado a 28 de Fevereiro de 2024
Descubra o significado do termo 'all-in' no poker. Neste artigo, iremos não só focar-nos naquilo que significa fazer all-in no poker, mas também falar um pouco sobre quando é correto arriscar todas as suas fichas de poker e de que forma o all-in no poker o pode ajudar a ter mais sucesso neste jogo.
O Que é o All-in no Poker?
'All-in' é um aposta no poker que envolve colocar todas as suas fichas em jogo, a determinado momento. Isto pode acontecer de várias formas e, no fundo, o all-in no poker é uma subcategoria de outras apostas. É possível irmos all-in por simplesmente apostarmos todas as nossas fichas, tal como também é possível fazer raise all-in, re-raise all-in ou até mesmo call all-in. Uma coisa é certa, verá muitos all-ins nas mesas de poker, principalmente em torneios onde cada jogador tem um prémio à cabeça, como é o caso dos torneios de poker Mystery Bounty!
Quando um jogador está all-in, este não consegue fazer mais apostas. É garantido que chegará a showdown se pelo menos um dos outros jogadores em prova fizer call. Também existe a possibilidade de ganhar o pote sem contestação se todos os restantes jogadores fizerem fold.
Para além disto, existem alguns pontos importantes a reter:
- Quaisquer apostas adicionais que sejam feitas pelos restantes jogadores na disputa do pote (depois de um jogador fazer all-in) criam um pote secundário, denominado por "side pot";
- O jogador all-in apenas poderá ganhar o pote principal;
- Os restantes jogadores (com stacks maiores do que a do jogador que estiver all-in) podem continuar a disputar o side pot.
- Exemplo do termo 'all-in' utilizado numa frase: “Tinha uma mão forte por isso decidi fazer re-raise all-in.”
Poker All in - Explicação
Apesar de um jogador de poker poder anunciar ir “all-in” e as fichas serem colocadas no centro, tal não significa necessariamente que estas estejam todas em risco. O montante exato de fichas a ser apostado será definido pelo tamanho das stacks de fichas. Por exemplo:
- O Jogador A vai all-in e o Jogador B também vai all-in no flop.
- O Jogador A tem €50 enquanto que o Jogador B tem €100.
Apesar do jogador B ter colocado os seus €100 no centro, só está a arriscar €50 da sua stack porque é este o montante que cobre aquilo que o jogador A tem. Apesar de podermos dizer que o o jogador B foi “all-in”, tal não significa que toda a sua stack esteja em risco neste caso. Isso apenas aconteceria caso algum jogador com mais do que €100 em fichas à sua esquerda fizesse call ao seu all-in. Ir all-in não indica necessariamente quem é o agressor, pois tanto é possível fazer raise all-in como fazer call all-in.
Antes de avançarmos para a estratégia de poker all-in, queríamos mencionar rapidamente algumas expressões extra que pode usar para substituir a expressão "all-in":
- Jam - "Ele viu o meu raise e decidiu fazer jam."
- Poker Shove - "Tinha de meter pressão sobre a big blind e fiz shove."
- Push - "Acho que devias ter feito push nessa situação."
All In Poker - Considerações Estratégicas
Uma questão habitualmente colocada em Portugal é “com que mãos devemos ir all-in no poker?” Existe um problema com essa questão; é que esta é um pouco genérica. Estas decisões dependem de um vasto número de variáveis. No entanto, é ainda assim possível aceitar algumas generalizações sobre se ir all-in é, ou não, correto a nível estratégico.
All in no Poker no Papel de Caller
Sabermos quando devemos, ou não, fazer call a uma aposta all-in do nosso adversário é algo bastante simples assim que as variáveis mais importantes sejam conhecidas. Isto é possível a partir do momento em que se é capaz de fazer uma estimativa precisa sobre essas tais variáveis. Fazer ou não fazer call a uma aposta all-in do seu adversário é simplesmente uma consequência direta das probabilidades do pote (pot odds) que temos em conjugação com a quantidade de equidade (poker equity) que a nossa mão tem face ao possível range de mãos de poker do adversário.
Exemplo
Encontram-se €100 no centro da mesa no river de uma mão de poker. O seu adversário olha para as cartas e decide fazer all-in de €50. Considerando a sua mão e o range do seu adversário, é expectável ganhar esta mão 30% das vezes ao fazer call. Seria, então, lucrativo fazer call ao all-in nesta situação?
Um principiante poderá facilmente assumir que fazer call nestas circunstâncias é um erro que nos fará perder dinheiro. Afinal de contas, depois de fazer call, acabaremos por perder o pote 70% das vezes. No entanto, visto que já estão €100 no pote, não precisamos necessariamente de ser favoritos para o call ser matematicamente correto. Desde que ganhemos mais de 25% das vezes, fazer call será sempre uma opção mais lucrativa no longo prazo do que fazer fold no poker. Descubra como fazer estes cálculos no nosso artigo dedicado às probabilidades do poker.
All in no Poker no Papel de Agressor
A decisão de fazer all-in como agressor nos jogos de poker é significativamente mais diferenciada e a sua consideração inclui variáveis extra. Como caller, precisamos somente de nos preocupar com as pot odds face à equidade da nossa mão. Como agressor, é uma combinação da equidade do pote (ao receber call) com a equidade de fold (fold equity, a frequência com que o nosso adversário desiste) que determina o poker EV (valor esperado) de um all-in. (Repare que tal não significa que podemos simplesmente somar a equidade do pote com a equidade de fold, como algumas fontes de estratégia tão erradamente sugerem).
Muito resumidamente, quanto maior equidade de pote e de fold tivermos, mais provável é a possibilidade de o all-in ser a melhor jogada. A relação exata entre a equidade de fold, pote e EV pode ser determinada ao executar um cálculo de valor esperado. Para mais informações sobre isto, consulte a entrada do glossário de poker sobre o valor esperado.
Não é necessário ter ambas as equidades (fold e pote) a nosso favor, desde que uma das duas variáveis seja suficientemente alta. Por exemplo, se tivermos mais de 50% de equidade contra o range de call do adversário aquando da nossa aposta, o all-in apresentará lucro com zero fold equity. De modo similar, se o seu adversário está a fazer fold acima de uma certa frequência (referida como "break-even threshold”), o nosso all-in apresentará lucro independentemente de termos qualquer equidade de pote aquando do call. O ponto break-even em todos os bluffs all-in está relacionado com a dimensão da aposta utilizada.
Exemplo
Estão €100 no centro no river e fazemos all-in em bluff dos nossos últimos €50. Que frequência de vitória precisa o nosso bluff para gerar lucro?
Visto que este cenário tem lugar no river, e para facilitar a compreensão do exemplo, vamos assumir que, se o nosso adversário fizer call, ele terá sempre a melhor mão. Por outras palavras, podemos pensar nisso como uma situação em que temos zero equidade de fold.
Os principiantes podem achar que precisamos ganhar mais de 50% das vezes para que o nosso bluff seja lucrativo. Afinal, se o nosso bluff falhar a maioria das vezes, qual é o objetivo? Mais uma vez, temos de nos lembrar que a quantia que potencialmente podemos ganhar com o nosso bluff no poker é significativamente maior que a quantia que arriscamos ao fazê-lo. No exemplo acima, estamos a investir 33% do pote total (€50 de €150 após o call do adversário), o que significa que, se o nosso bluff for bem sucedido mais de 33% das vezes, o movimento gera um valor esperado mais alto do que o fold.
All-in Poker - Linhas Orientadoras
Depois de jogar num formato específico por um período de tempo, os jogadores começam a obter ferramentas que os ajudam nas decisões que envolvem all-ins no poker. Essas decisões serão avaliadas ao considerar variáveis como as seguintes:
- Stacks efetivas - O tipo de mãos que escolhemos para fazer all-in serão fortemente afetadas pelas stacks efetivas. Quanto maiores forem as stacks efetivas, mais forte a nossa mão precisa de ser para fazermos all-in.
- A relação Stack/Pote (SPR - Stack to Pot Ratio) - O SPR no poker, ou a proporção da stack em relação ao pote é ligeiramente diferente da profundidade das stacks. Os SPR descrevem a proporção entre as fichas no pote e as fichas nas stacks efetivas. (Por exemplo, se tivermos €400 na nossa stack e houver €100 no meio, teremos um SPR de 4.)
- Tipo de Adversários - Não queremos tomar decisões que envolvam colocar todas as nossas fichas em risco com base apenas no SPR e no tipo de mão que temos. O poker é um jogo de pessoas e as nossas decisões all-in devem ser fortemente ajustadas com base no tipo de adversário que enfrentamos.
- Ação Prévia - Alguns all-ins representam mais força do que outros. Queremos analisar, da melhor forma possível, se as ações do nosso adversário fazem sentido. Será que ele tem a mão que está a tentar representar? A nossa capacidade de compreender isto aumentará à medida que nos familiarizamos com as diferentes tendências dos jogadores de poker nos limites que jogamos.
- Força Relativa das Mãos - Seguir algum tipo de sistema de comprometimento baseado na força absoluta da mão pode ser problemático. Por exemplo, imagine que tínhamos uma regra de all-in onde nunca desistimos de um trio no poker com stacks efetivas de 100bb.
Olhe para a seguinte mão:
Board: J♥T♥9♥Q♣
Mão: 9♦9♠
Apesar de termos um poker set e de termos menos de 100bb efetivas, devemos ter a capacidade de ver imediatamente que a nossa mão não é tão forte nestas circunstâncias.
- Considerações sobre ICM (ao jogar MTTs ou SNGs) - É possível ter as pot odds certas para fazer call all-in, mas o call ser ainda incorreto devido às considerações de ICM. Às vezes, é mais importante conservar a nossa stack com base na estrutura do torneio. Os jogadores de torneios podem querer procurar informações sobre Poker ICM para entender melhor como isso afeta as suas decisões de call.
All-ins e as Mãos Mais Loucas no Poker
As regras do all-in estão nas mãos de cada jogador a todos os momentos do jogo e, como já vimos, o all-in pode ser uma estratégia de força e intimidação, mas também de desespero para quem a causa está perdida e vê num all-in a solução para recuperar. Em todos os torneios de poker do mundo, têm havido all-ins históricos que nos deixam boquiabertos. Momentos em que os jogadores pedem aos deuses do poker aquele momento “One Time”, em que contra todas as probabilidades, o jogo vira e lhes dá a vitória com a mão de poker mais improvável.
Num dos torneios mais competitivos de todo o mundo, nas tão aclamadas World Series of Poker (as WSOP), tivemos um all-in absolutamente épico numa mesa final que acabaria por ficar para a história como uma das mais ínfames do $10,000 No Limit Hold’em 6-max Championship nas WSOP 2016.
A mesa final reuniu os nomes de Jack Salter, Nick Petrangelo, Chris Ferguson, Justin Bonomo, David Kitai e Martin Kozlov. Nomes incontornáveis que estão inscritos nos livros como alguns dos melhores jogadores de poker do mundo. No final, quando Justin Bonomo, Martin Kozlov e Davidi Kitai estavam 3-handed, desenrolou-se uma mão que acabaria por definir, de uma só vez, quem acabaria por ser aquele que levava a bracelete para casa!
Tudo começou com um raise de Kozlov para 250k no botão, ao qual Justin Bonomo respondeu com um re-raise all-in de cerca de 2.9 milhões na small blind. Kitai, na BB, decidiu isolar com 4-bet all-in de 3.8 milhões e Kozlov, que tinha mais fichas do que ambos os seus adversários, fez call.
Bonomo mostrou 9♥9♣, Kitai virou 6♦6♠ e Kozlov estava na frente com Q♣Q♦. O drama nem sequer teve tempo de começar. O dealer virou o flop Q♠Q♥7♠ e estava tudo decidido de uma assentada. Num passo de magia digna das WSOP, vimos três jogadores all-in num momento improvável que declarou Martin Kozlov o absoluto vencedor.
Os eventos de poker ao vivo da 888 também têm muitos all-ins dramáticos. Veja você mesmo:
All In no Poker - Conclusão
Esperamos assim que tenha compreendido as mais relevantes nuances do all-in no poker, a sua importância no jogo, e também a carga psicológica que é aportada em cada jogada que envolve all-ins. O coração a bater mais forte, o silêncio antes da tempestade, os nervos à flor da pele numa emoção que dura alguns segundos mas resume a gratidão e ingratidão que este jogo nos transmite ao som das fichas e das cartas.
Originalmente publicado a 19 de Novembro de 2020