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A fadiga de decisões é uma forma de sobrecarga cognitiva que surge quando ficamos sobrecarregados com o número de decisões que precisamos de tomar ou com a importância das mesmas. Isso pode levar a stress, ansiedade ou a que evitemos os problemas, tal como a uma diminuição da capacidade de tomar decisões.
As circunstâncias dos últimos anos, a inflação e a crise do custo de vida, significam que muitos de nós estivemos em estado de alerta máximo ou com níveis elevados de stress meses a fio. Estes também podem ser fatores que contribuem para casos de exaustão mental que podem afetar a nossa capacidade de tomar boas decisões. Reduzir o stress no emprego e no poker é extremamente importante.
Neste artigo, vamos falar sobre a tomada de decisão e falar sobre isso com a jogadora profissional e embaixadora da 888poker, Vivian Saliba, de forma a discutir como superar a fadiga de decisões e fazer escolhas informadas.
Índice
- Quantas Decisões Tomamos?
- Menor Capacidade para Tomada de Decisões
- Estudos de Caso
- Função Cerebral
- Altura do Dia
- Emoção
- Fatores de Risco
- Efeitos
- Como Superar a Fadiga de Decisões
- Reduzir o Número de Decisões
- Como Reduzir as Decisões
- Pense Sobre os Três P’s
- Preferências
- Pagamentos
- Probabilidades
Quantas Decisões Tomamos?
Pode ser difícil quantificar as decisões que tomamos. Escolher chá em vez de café é, claramente, uma decisão, mas coçar o nariz é uma decisão ou um impulso? De qualquer forma, estudos mostram que tomamos milhares de decisões todos os dias. É cansativo só de pensar, certo?
A maior parte destas decisões são pequenas e relativamente inconsequentes. Decidir se devemos vestir a camisola azul ou a vermelha para ir trabalhar, ou comer uma sande ou uma sopa ao almoço provavelmente não terá assim tanto impacto nos eventos do nosso dia. Contudo, um estudo da Universidade de Cornell concluiu que tomamos aproximadamente 226 decisões por dia apenas sobre comida. Vistas assim as coisas, até estas pequenas decisões podem ser desgastantes.
Algumas terão consequências ou resultados identificáveis, o que pode não ser muito importante, mas pode adicionar ou retirar valor às nossas vidas e do mundo à nossa volta. Decidir ir a pé para o trabalho em vez de conduzir, por exemplo, traz benefícios tanto para a nossa forma física como para o ambiente. Algumas decisões são muito importantes – decidir mudar de emprego ou aceitar um pedido de casamento requer muita ponderação, e nós colocamos muita pressão sobre nós próprios para tomar a melhor decisão.
Então como é que alguém que precisa de tomar rápidas decisões regularmente na sua carreira lida com isso? Vivian explica: “Eu tento basear as minhas decisões na teoria que estudei, em vez de naquilo que sinto ou num impulso que pode indicar fazer algo diferente. Isto pode não parecer fácil, mas ao aprender como devo jogar, tento definir regras e estabelecer algumas diretrizes de forma a executar a teoria da melhor forma possível.”
Menor Capacidade para Tomada de Decisões
Independentemente do tamanho ou importância das nossas decisões, a nossa capacidade para tomar decisões pode ser vista como um recurso finito. Quanto mais decisões tomarmos, ou quanto mais pressão colocarmos sobre nós mesmos para tomar a decisão certa constantemente, mais esgotados ficamos.
Consequentemente, quando estivermos face a mais decisões mais tarde, a nossa capacidade de fazer essas escolhas já será diminuída. Pessoas que escolhem hobbies ou carreiras onde seja necessário tomar várias decisões, tal como jogadores de poker como Vivan, ou aqueles que têm de tomar decisões complexas e significativas como cirurgiões, são altamente suscetíveis a fadiga de decisões.
Pessoas que são mais suscetíveis a esse tipo de fadiga desenvolvem, muitas vezes, estratégias e técnicas para superar os piores efeitos e manter a capacidade de continuar a tomar decisões inteligentes mesmo quando estão cansados ou sob pressão, tal como Vivian explicou.
“Tentei várias coisas de forma a ter um melhor desempenho a jogar poker”, disse ela. “Há alguns anos, tomava café forte todas as manhãs e fazia yoga, e isso ajudava.
Hoje em dia, caso tenha a oportunidade de escolher quando jogar, assim o farei. Por vezes, simplesmente não nos sentimos no nosso melhor, [por razões como] doença, preocupações pessoais, até mulheres com um desequilíbrio hormonal [em certas alturas do mês]. Em dias afetados por qualquer uma destas coisas, não será a melhor altura para lidar com decisões difíceis e ter o melhor desempenho nas mesas. Para mim, é melhor decidir não jogar caso não seja obrigatório e fazer algo mais produtivo em vez disso, tal como estudar ou simplesmente cuidar de mim."
Estudos de Caso
Função Cerebral
Fadiga de decisões nasce de alterações na função cerebral – é mais do que um simples sentimento. Utilizando a ressonância magnética funcional, investigadores examinaram a atividade cerebral no córtex cingulado anterior e estriado, duas áreas do cérebro associadas à tomada de decisões, controlo de impulsos e outros aspetos da cognição. Foi pedido aos participantes que escolhessem entre objetos que lhes foram apresentados em conjuntos de 6, 12 e 24. Quando confrontados com 12 escolhas, a atividade foi maior, sugerindo que este é o número “correto” de escolhas, ou o ponto ideal para a tomada de decisão.
E a saúde cerebral desempenha um papel fundamental, não apenas na tomada de decisões, mas também numa vida saudável. Vivian diz: “[Algo] que me ajuda no meu desempenho é um estilo de vida saudável. Dieta, exercício e descanso. Parece cliché, mas funciona.
Antes de quaisquer séries grandes de torneios submeto-me a um período de desintoxicação [de álcool no corpo] algumas semanas antes. Passo a ser, também, mais rígida com a minha rotina e compromissos. Antes de começar a fazer essa preparação intensiva, não me sentia tão bem durante as longas horas de alta pressão num jogo de poker.”
Altura do Dia
A altura do dia também pode ter importância na nossa capacidade de tomar decisões ou em quanta energia temos para usar nessas decisões. Um estudo de investigação sobre decisões judiciais nos EUA, que examinou mais de mil decisões sobre liberdade condicional num período de 10 meses, concluiu que alguns criminosos talvez não tivessem uma audiência justa.
Os casos julgados no início do dia e logo após o intervalo para o almoço tiveram uma probabilidade significativamente maior de terminar com um resultado favorável para o réu, quando comparados com aqueles realizados imediatamente antes do intervalo ou no final do dia. E isto aplica-se a mais de 1.100 casos avaliados.
Emoção
Emoções altas também nos podem tornar mais propensos a tomar más decisões, especialmente quando as emoções que experienciamos são negativas. O cientista cognitivo Jussi Palomäki conduziu um estudo sobre o fenómeno do tilt no poker (quando um jogador toma uma série de más decisões levando a que perca).
Palomäki descobriu vários pontos em comum entre os jogadores que entraram em tilt, todos ligados a emoções fortes e negativas. Alguns jogadores entraram em tilt após uma perda que sentiram ser injusta, resultando num comportamento de perseguição envolvendo a tomada de decisões erradas na tentativa de recuperar as fichas perdidas “injustamente”.
A dissociação também era comum, com os jogadores a relatar sentimentos de dormência e vazio durante o tilt. Jogadores mais inexperientes também revelaram sentir raiva e ter “azar”, embora os jogadores mais experientes reconhecessem que nem todos os draws acabariam a seu favor.
Então, como é que Vivian evita o tilt? “Às vezes, principalmente depois de jogar por um longo período de tempo e/ou sob pressão, podemos cometer erros que normalmente não cometeríamos e isso pode fazer a diferença na vitória ou na derrota”, diz a jogadora. “Quanto mais competitivo for o jogo que está a jogar, mais caros serão os erros. Mesmo os melhores jogadores de poker do mundo não conseguem jogar um poker perfeito sempre.”
Fatores de Risco
Há vários fatores de risco que podem levar a que as pessoas sofram fadiga de decisão, também conhecida como esgotamento do ego. As pessoas com maior risco de ficarem fatigadas incluem aquelas que:
- Tomam um número de decisões por dia maior do que o normal
- Tomam muitas decisões complexas
- Tomam decisões stressantes ou que podem ter um grande impacto
- Tomam decisões que têm um impacto significativo nos outros
- Sentem-se altamente afetados pelas decisões que tomam
Também há lugar a fatores adicionais como cultura e percepção.
Os participantes Ocidentais acreditavam que era desgastante exercer força de vontade, enquanto que os participantes da Índia acreditavam que era energizante. Essas crenças afetaram o desempenho dos participantes.
Efeitos
Há vários efeitos significativos na fadiga de decisão, que giram à volta da nossa capacidade contínua de tomar boas decisões. Pessoas que sofrem de fadiga de decisão podem:
- Tomar mais decisões impulsivamente, como compras por impulso, sem pensar nas consequências.
- Procrastinar ou evitar tomar decisões, levando muitas vezes a maus resultados.
- Pensar em demasia ou ruminar por longos períodos de tempo sobre um aspeto de uma decisão, sem a devida consideração dos compromissos.
Muitas pessoas também experienciam sentimentos associados com stress, como letargia, irritabilidade, incapacidade de dormir ou dormir em demasia. Fadiga de decisão é uma forma de stress, por isso faz sentido os sintomas serem similares.
Como Superar a Fadiga de Decisões
As boas notícias é que há várias coisas que podemos fazer para superar a fadiga de decisões e aumentar as nossas probabilidades de continuar a tomar boas decisões ao longo de cada dia. Muitas pessoas de sucesso partilharam as suas dicas para reduzir fadiga de decisões e Vivian revelou como as suas técnicas podem ser aplicadas fora do mundo do poker.
“O principal componente de uma vida saudável é a dieta que segue, apenas adicionando vegetais frescos ao seu menu diário e removendo lixo, sentirá uma enorme diferença na sua saúde no geral e na saúde do cérebro também. Confie em mim, eu costumava ser muito pouco saudável.
Outra coisa fácil de fazer é simplesmente mover o seu corpo, andar em vez de conduzir, usar as escadas em vez do elevador etc. Eu tenho uma standing desk e uma passadeira portátil para ser capaz de mover o meu corpo quando estou a jogar poker online. Isto pode ser um bom investimento para si também.”
Reduzir o Número de Decisões
Apesar de independentemente do que fazemos, termos ainda milhares de decisões por dia, há algumas áreas onde podemos reduzir de forma fácil e natural o número de decisões menos importantes.
Algumas das pessoas mais bem-sucedidas do mundo são conhecidas por vestir-se da mesma forma todos os dias:
- As calças de ganga azuis, camisola preta de gola alta e sapatilhas de Steve Jobs são parte da marca Apple tanto quanto os seus produtos.
- Mark Zuckerberg é raramente visto a vestir outra coisa que não uma t-shirt cinzenta.
- Albert Einstein vestia sempre um fato cinzento.
- Barack Obama reduziu as suas escolhas de guarda-roupa a duas cores durante o seu mandato.
A razão para a monotonia do vestuário? Cada uma destas pessoas afirmou que fez um esforço consciente para reduzir o número de decisões que tinha de tomar num dia normal, de forma a conservar o poder do cérebro para tarefas mais importantes.
Como Reduzir as Decisões
Há várias coisas que pode fazer para simplificar a sua vida e reduzir o número de decisões que tem de tomar.
- Criar um guarda-roupa como Jobs e Zuckerberg.
- Criar um plano de refeições rotativo e cumpri-lo, para não perder tempo a decidir o que fazer para o jantar. Isto também o ajuda a reduzir o número de decisões de compras de supermercado que precisa tomar, pois pode configurar um pedido online para os ingredientes de que precisa a cada semana.
- Estabelecer uma rotina matinal adequada – decida com antecedência a que horas vai levantar-se, o que vestir, o que comer ao pequeno almoço etc. Siga essa mesma rotina todos os dias.
- Caso faça exercício, tenha uma hora específica do dia para ir ao ginásio ou para ir correr, de forma a não perder tempo a decidir se deve ir ou não.
Pense Sobre os Três P’s
Preferências
As preferências são únicas para cada um de nós. Perder algum tempo agora a determinar quais são as suas preferências, pode poupar várias decisões no futuro. Determine quais são os seus objetivos específicos em qualquer situação antes de entrar nela, de forma a ter uma ideia clara dos resultados que pretende. Por exemplo, caso precise de contratar um novo funcionário, identifique quais são os valores e características que procura antes de começar a analisar CVs ou a entrevistar candidatos.
Pagamentos
Annie Duke também sugere medir o retorno de cada potencial resultado antes de tomar uma decisão. A maioria das decisões acabará numa mistura de bons e maus resultados – raramente existe uma escolha correta. Assim como na determinação de preferências, você pode avaliar decisões importantes com base no retorno. Algumas decisões adicionarão valor à sua vida de alguma forma, como aumentar o seu salário ou a sua felicidade. Outras poderão simplesmente evitar resultados negativos – escolhendo o caminho que fará com que perca menos.
Probabilidades
Determinar a probabilidade de obter o resultado que pretende também o poderá ajudar a tomar melhores decisões. Por vezes, a sorte ou outros fatores externos fora do nosso controlo afetarão o resultado das nossas decisões. Calcular a probabilidade geralmente resume-se a identificar quanto do resultado podemos controlar e quanto está fora das nossas mãos.
Fadiga de decisões é algo que nos afetará a todos em algum momento. Como Vivian mencionou, há uma série de fatores como estarmos cansados ou simplesmente irritados que nos torna mais suscetíveis, e evitar tomar decisões importantes ou situações em que teremos de tomar várias decisões complexas pode ser uma boa ideia. É uma estratégia que a ajudou a ganhar muitos jogos e a tornar-se uma profissional na sua área – ao estar ciente da fadiga de decisões e tomar medidas para reduzir os efeitos, todos podemos melhorar as nossas probabilidades de tomar melhores decisões.
Ela acrescenta: “A única maneira de ter uma compreensão mais clara do que você deve fazer é conhecer a teoria e tentar implementá-la. Claro, é mais fácil dizê-lo do que fazê-lo, mas tentarei encontrar as respostas levando o meu tempo e pensando verdadeiramente na situação [e na decisão].”
Fontes:
https://www.medicalnewstoday.com/articles/decision-fatigue#risk-factors
https://www.healthline.com/health/decision-fatigue
https://jamesclear.com/willpower-decision-fatigue
https://www.pokernews.com/news/2013/12/jussi-palomaki-tilt-study-17032.htm
https://medium.com/swlh/why-successful-people-wear-the-same-thing-every-day-308387470171
https://www.fastcompany.com/90562265/what-poker-can-teach-us-about-how-to-make-good-decisions
