Aviso: O conteúdo aqui apresentado tem uma finalidade exclusivamente informativa sobre um tipo específico de jogo e como jogá-lo. O objetivo deste conteúdo não é nem promover nem disponibilizar um tipo de jogo, mas simplesmente informar o jogador acerca de como jogá-lo.
“Se não houvesse sorte envolvida, eu ganharia sempre.” – Phil Hellmuth
Tendo em conta o sucesso que Phil Hellmuth tem tido no poker (16 braceletes WSOP, por exemplo), é fascinante ver, ainda, vídeos dele a repreender “jogadores idiotas”.
Hellmuth é, sem dúvida, um jogador de poker extremamente talentoso. Quem nunca sentiu aquilo que ele sente nas mesas quando explode e nos faz rir a todos? Todos já sentimos a dor e frustração que resulta de uma bad beat patrocinada por um jogador mais fraco.
Mas vamos refletir sobre o assunto:
- Devemos mesmo repreender estes “idiotas”, como Hellmuth lhes chama?
- Ou abraçar o seu run good com desejos de boa sorte e high fives?
A realidade é que, se não houvesse sorte no poker, os jogos seriam, muito provalmente, muito mais difíceis.
É fácil esquecer este facto, mas a sorte é aquilo que mantém o poker vivo. É a fonte de tantas das coisas que mantêm a maioria dos maus jogadores nas mesas.
Neste artigo, vamos examinar as várias formas como a sorte e os jogadores menos bons influenciam o jogo
Índice
- A Sorte é Parte Crucial da Sobrevivência do Poker
- Abraçar a Sorte
- Repreender Maus Jogadores
- Educar Jogadores Perdedores
- Mudar o Foco do Tilt
- Esmagar o Tilt – Uma Nova Perspetiva
A Sorte é Parte Crucial da Sobrevivência do Poker
Sem a sorte, as desvantagens estratégicas dos jogadores fracos seriam muito mais óbvias e muito mais severas. Estes jogadores estariam indefesos contra bons jogadores e seriam destruídos nas mesas muito, muito rapidamente.
Haveria um massacre!
Sem dúvida, seria apenas uma questão de tempo até os jogadores fracos sentirem-se extremamente aborrecidos e frustrados. O mais provável era acabarem por desistir de jogar.
E à medida que mais e mais jogadores desistissem, os restantes jogadores teriam de melhorar, perder ou abandonar o barco.
O poker tornar-se-ia, rapidamente, muito menos divertido e muito mais difícil. A habilidade média de cada jogador acabaria por aumentar tanto que os extremos diminuiriam. Deixaria de ser possível bater o rake e os jogos deixariam de correr por completo.
Quem quer que você seja, menos jogadores maus representa lucros menores. Não interessa quão bom você é, as enormes perdas dos maus jogadores pagam tanto as contas quanto a sua grande habilidade nas mesas.
Sem sorte, não haveria jogos. E é muito difícil ganhar ou perder sem conseguir jogar!
Pensando bem, talvez Phil Hellmuth devesse alterar a sua frase para:
“Se não houvesse sorte envolvida, eu estaria sempre break even!”
Abraçar a Sorte
Apesar do poker ser um jogo de habilidade, a sorte adiciona um tipo especial de divertimento e emoção para aqueles que, por outro lado, não teriam possibilidade de ganhar. Muitos jogadores jogam poker mesmo sabendo que têm uma desvantagem estratégica precisamente por este motivo.
Pense em todos aqueles magnatas multimilionários inteligentes a jogar eventos high-roller carregados de profissionais extremamente competentes. Pensa que eles acham que têm algum tipo de vantagem? Claro que não!
E eles não jogam por odiar dinheiro. É, aliás, difícil tornar-nos multimilionários seguindo essa filosofia.
- Eles jogam pela emoção e pelo potencial prestígio.
- Eles jogam para ter sorte e pela possibilidade de ganhar um enorme troféu que podem utilizar como pisa-papéis.
Há várias razões palas quais jogadores perdedores jogam poker. Remover a sorte de curto-prazo acabaria por prejudicar quase todos esses jogadores e impactar negativamente a sua vontade de jogar.
É essencial compreender que a sensação de alegria que os jogadores perdedores têm quando ganham uma grande mão é inestimável. Este facto é tão verdade para si como para todo o ecossistema do poker.
Para além do bónus financeiro imediato, esta sensação ajuda-os a quebrar o ciclo perdedor. Dá aos jogadores perdedores um motivo para acreditarem neles mesmos – validação.
A sorte tanto é a razão pela qual eles jogam como é também um lembrete de porque é que jogam.
A beleza da sorte no poker vem do facto de funcionar quase como uma anestesia.
- Pode sobrepor-se à dor de perder e disfarçar aquilo que, de outra forma, seriam deficiências estratégicas extremamente óbvias.
- Pode disfarçar a desvantagem a nível de habilidade dos jogadores fracos ou pelo menos fazer com que isso nem lhes interesse.
- A sorte pode superar a habilidade (no curto prazo) e ajudar os perdedores a sentirem-se como vencedores.
Esta é a razão pela qual as pessoas jogam.
Todos devíamos aprender a adorar a sorte. Receba-a de braços abertos, abrace-a, celebre-a. Em vez de repreender um “idiota sortudo”, parabenize-o. Criará uma atmosfera muito mais positiva.
Tornará toda a experiência muito mais agradável para todos na mesa. As pessoas quererão jogar consigo muito mais frequentemente.
E você também se sentirá melhor. Stress e negativismo afetam o nosso sono e estado de espírito. Por isso, habitue-se a ficar feliz quando os outros têm sorte. Você terá uma aura muito mais acolhedora e será mais saudável, física e mentalmente.
Lembre-se sempre de que não há nada com que se preocupar no poker no que toca à sorte. Feitas as contas, a sorte é amiga do jogador ganhador no longo prazo.
Por isso, relaxe e aproveite!
Repreender Maus Jogadores
Ninguém quer ou espera sentir-se desconfortável a fazer algo que era suposto ser agradável. A seguinte frase nem deveria ter de ser proferida:
- Não tem o direito de atacar a forma de ninguém jogar, as suas decisões, estilo, personalidade, forma de vestir ou escolha de cocktail!
Leia o nosso artigo sobre a importância de proteger a boa atmosfera na mesa seguindo as regras de boa etiqueta no poker.
Lembre-se, as pessoas não vão ao dentista porque querem. Elas vão porque precisam.
Tornar a experiência dos seus adversários na mesa tão má quanto tirar uma cárie apenas os fará pensar duas vezes em ir jogar da próxima vez.
Compreende porque é que isto é mau para a longevidade do jogo?
Deve ver como seu dever fazer o poker parecer um simples hobby para os jogadores que jogam recreativamente. Qualquer coisa que faça um jogador sentir-se vítima de bullying, intimidado ou alienado deve ser repreendido e evitado!
Afinal, a sua longevidade e sucesso no poker estão relacionados com eles!
- Independentemente da sua habilidade, tente ver os jogadores mais fracos como seus clientes.
- O seu negócio precisa muito mais deles do que eles precisam de si.
- Sem eles, terá dificuldades em ganhar.
Fazer qualquer jogador sentir-se indesejado é como um restaurante substituir as cadeiras por catos. Fará muitas pessoas sentirem-se muito desconfortáveis.
Lembre-se, “o cliente tem sempre razão”.
Educar Jogadores Perdedores
Também não deve discutir estratégia na mesa.
Em qualquer parte do Mundo, há sempre um jogador na mesa que é o sabichão. E muitos de nós já fomos esse jogador em algum momento das nossas carreiras. Tropeçamos num artigo sobre c-bets e ficamos a achar que descortinámos todos os segredos do poker.
Por alguma razão desconhecida, sentimo-nos quase que obrigados a partilhar o nosso conhecimento com os nossos pupilos nas mesas para mostrar o quão espetaculares somos!
Este tipo de jogadores são, geralmente, um caso do efeito Dunning-Kruger (excesso de confiança delirante). Mas alguns bons jogadores adoram discutir estratégia nas mesas.
Mesmo que a sua estratégia seja extremamente avançada, é um erro partilhá-la, por várias razões:
1. Vai aborrecer os outros jogadores e estragar a atmosfera na mesa;
2. Revela a todos em que nível você está, o que acabará por ajudar os outros jogadores a compreenderem como você pensa;
3. Jogadores mais fracos ouvirão e melhorarão – graças ao treino gratuito;
4. Jogadores mais fracos sentir-se-ão inseguros e quererão desistir;
5. Alertará jogadores mais fracos sobre estratégias e problemas no seu jogo e eles irão estudar e melhorar.
TODOS ESTES DIFICULTAM A SUA TAREFA NAS MESAS!
Educar um jogador perdedor é como abrir um buraco enorme no seu barco de borracha que já estava levemente perfurado.
Eles já se estavam a afundar.
Você acabou por tornar esse facto muito mais óbvio.
E agora eles vão arranjar ou barco ou simplesmente sair da água.
Bom trabalho!
Mudar o Foco do Tilt
Se alguém lhe pedisse para descrever o tilt, provavelmente diria algo mais ou menos como:
“Tilt é quando um jogador fica chateado e começa a jogar mal depois de perder um grande pote.”
Apesar de ser verdade, tilt não é só isto.
Alguma vez foi eliminado de um torneio e ficou a ferver ao ver o jogador divertido a usar as “suas” fichas? Ah, lembra-se como se fosse ontem!
Tinha J9s e fez open-raise no cuto.... estamos a brincar! Ninguém precisa de ouvir a história de mais uma bad beat!
Mas acredite, todos já passámos por isso! De forma rancorosa, poderia haver um pouco de consolo no facto de que esse jogador, certamente, vai tirar o pó às fichas durante um bocado e ser eliminado logo a seguir... mas não há! E saber que ele tem muito pouca probabilidade de ganhar torna tudo muito, muito pior!
Dói mais do que uma eliminação normal. É aquele sentimento esmagador que nos diz que iríamos dar muito melhor uso às fichas do que ele. Se tivéssemos ganho aquela mão..... Ele jogou tão mal, não merecia ganhar!
É a mesma sensação que toma conta de nós quando estamos numa mesa de cash onde está também uma baleia carregada de dinheiro. Estamos desesperados por entrar num pote, mas só recebemos mãos como J2o.
- Finalmente, uma mão!
- Fazemos 3-bet com QQ e perdemos um pot consideravelmente grande contra o J8o desse jogador que acerta o segundo par no river.
- Ele entrega as suas novas fichas logo na mão seguinte, ao acabar all-in com JTo contra o par de Reis do jogador mais tight da mesa.
E nós ficamos ali, sentados, a sentir-nos completamente injustiçados. Somos melhores do que ambos os jogadores. Devíamos estar a ganhar, certo?! Errado! Apesar de poker ser um jogo de habilidade, os melhores jogadores não ganham sempre no curto prazo.
E esta sensação de direito é, essencialmente, uma forma de tilt.
Esmagar o Tilt – Uma Nova Perspetiva
Você deve reconhecer e controlar o tipo de tilt descrito acima. A melhor forma de o fazer é mudando a perspetiva.
Lembre-se, os lucros apenas podem existir no poker se houver perdedores.
E adivinhe... as pessoas não gostam de perder!
Pense nisso. Se os melhores jogadores ganhassem sempre, eles seriam os únicos a jogar. Os jogos tornar-se-iam extremamente duros. Os extremos seriam tão pequenos que o rake acabaria por matar toda a indústria do poker.
A melhor forma de gerir este tipo de tilt é encontrar uma forma de ver as coisas de um ângulo diferente. Lembre-se, aprendemos a abraçar a sorte anteriormente.
Por isso, pare de ficar obcecado sobre quão melhor do que os outros você é (assumindo que é!) e pare de reclamar sobre o “quão injusto” é o poker.
Encontre aquilo que é positivo quando perde.
Lembre-se do que disse Zig Ziglar: “Se aprendeu com a derrota, não perdeu realmente.”
Pode ajudar ver perder contra jogadores inferiores como um tipo de renda, rake ou taxa – algo que tem de pagar para que o jogo continue.
É o custo de ganhar no longo termo.
Para melhor compreender o que queremos dizer, comparemos esta questão com um gerente de um banco.
Alguma vez viu um gerente de um banco atirar o ecrã do computador pela porta do seu gabinete depois de aprovar um empréstimo? Não! Eles fazem-no com um grande sorriso estampado na cara porque sabem que, eventualmente, vão lucrar com isso.
- Portanto, quando um mau jogador ganha, respire fundo e sorria.
- Carimbe o livro de cheques metafórico e pergunte-lhes se querem o pagamento em notas grandes ou pequenas.
Lembre-se, tudo o que eles fizeram foi pedir um empréstimo ao Banco dos Jogadores de Poker Ganhadores.
A desvantagem deles significa que acabarão por pagar tudo de volta e com juros, no longo prazo.