Aviso: O conteúdo aqui apresentado tem uma finalidade exclusivamente informativa sobre um tipo específico de jogo e como jogá-lo. O objetivo deste conteúdo não é nem promover nem disponibilizar um tipo de jogo, mas simplesmente informar o jogador acerca de como jogá-lo.
O poker percorreu um longo caminho desde os dias do Velho Oeste, época em que um suckout podia terminar em tiroteio. Hoje em dia, somos bastante privilegiados em termos de segurança. Mas foi há apenas 50 anos que jogadores como Doyle Brunson e Devilfish eram roubados à mão armada ou jogavam com uma espingarda de canos serrados debaixo da mesa.
Felizmente, poker do século XXI é uma história diferente. Em nenhuma outra parte da sociedade deixarias milhares de euros em cima de uma mesa, irias à casa de banho e não transpirarias de preocupação com a possibilidade de o dinheiro já lá não estar quando voltasses.
É uma loucura se pensares nisso, mas o poker nunca foi tão seguro.
Porque é que os Esquemas no Poker Não Funcionam
No entanto, seja evasão fiscal, furto em lojas, ou um combate combinado, se há dinheiro envolvido, provavelmente há alguém a tentar engendrar um esquema. No poker não é diferente, e assim, historicamente, tem havido uma série de coisas duvidosas no jogo.
Os esquemas variam em termos de criatividade, desde os baralhos manipulados e dispositivos nas mangas para apanhar cartas de antigamente até aos esquemas modernos mais sofisticados, como as recentes alegações contra Mike Postle (que analisaremos mais tarde).
Enervantemente, provavelmente não temos conhecimento dos melhores golpes no poker porque apenas os idiotas ou esquemas falhados é que acabam por ser descobertos. De forma reconfortante, os casinos e os seus clientes jogadores de poker estão do nosso lado e têm medidas de segurança excecionais para te manter seguro.
De qualquer forma, aqui estão alguns esquemas clássicos para despertar o teu interesse e ajudar-te a manteres-te seguro nas mesas.
1. O Clássico Cold Deck
Provavelmente já ouviste este termo ser usado para descrever um cooler normal, mas a frase vem de um dos golpes mais antigos do jogo. Um "cold deck" é um baralho de cartas previamente arranjado e manipulado para favorecer um jogador específico. O nome vem do facto de o baralho não ter sido 'aquecido' pelas mãos dos jogadores.
É um esquema bastante simples:
- Preparar o cooler;
- Encontrar uma forma de introduzir as cartas no jogo na altura certa;
- Ver o drama desenrolar-se e colher as recompensas.
O esquema funciona juntamente com um cúmplice ou dois, cujo trabalho é fazer raise às apostas repetidamente, inflacionando os potes. Fingindo ser um jogador rico e bêbado, este cúmplice é projetado para seduzir os jogadores e deixá-los com uma falsa sensação de segurança. Com toda a atenção no suposto jogador rico, torna-se mais fácil introduzir o baralho no jogo e minimizar qualquer risco de suspeita, enquanto o golpista acumula os ganhos adquiridos de forma pouco ética!
Já não ouves falar deste esquema porque não há uma forma real de o implementar num jogo de casino ao vivo, uma vez que a segurança é demasiado rigorosa e atenta.
Se for executado corretamente, os cold decks são um golpe eficaz e, se quiseres ver o truque em ação, aqui está um ótimo tutorial em vídeo de uma equipa chamada "The Real Hustle" onde pregam uma partida ao muito mais jovem Hendon Mob.
2. Conluio no Poker (Collusion)
Conluio no poker (ou collusion no poker como ouvirás grande parte das vezes) envolve dois ou mais jogadores a trabalhar em conjunto para ganhar uma vantagem sobre um adversário. Historicamente, isto aconteceu tanto no poker ao vivo como poker online, com alguns resultados de valor considerável em torneios ao vivo a serem investigados. Online, o conluio é bastante facilitado através de software de terceiros como uma chamada telefónica, uma VPN, ou partilha de ecrã. Contudo, na arena do poker ao vivo, o conluio requer muito mais habilidade e preparação, já que é normalmente levada a cabo através de ‘sinais’ complexos previamente combinados entre os jogadores.
Apesar de ser bastante complicado de o fazer, o jogador posiciona-se de uma forma que o permita comunicar com o seu companheiro usando um código secreto predeterminado ou linguagem gestual. A subtileza é imprescindível no conluio ao vivo e conseguir fazê-lo com sucesso é difícil. Requer um pouco mais de sofisticação do que simplesmente tentar dizer entre dentes “fiz fold a um Ás” a meio de um ataque de tosse que aparece numa altura conveniente.
Apesar de a maioria das pessoas verem o conluio como simplesmente partilhar cartas de forma a que os jogadores envolvidos saibam quais cartas já não estão disponíveis e ficarem com uma ideia do poker range do seu adversário, esta prática não se resume a isso. Tal como formar uma equipa num combate, caso estejas a trabalhar com alguém, serás capaz de colocar o teu adversário em situações mais difíceis ao sujeitá-los a quantidades pouco razoáveis de pressão. Para terem sucesso, as tuas vítimas terão de ser bastante superiores a ti.
Adicionalmente, e tal como acontece no mundo dos encontros amorosos online, a maioria dos jogadores chegam à conclusão de que devem elevar os padrões com mais do que um jogador à mistura. Como não interessa qual dos batoteiros ganha o pote (já que estão a partilhar os lucros), poderá haver mais a perder ao fazer fold do que manter-nos na disputa e forçar o adversário a jogar potes multi-way (com mais do que dois jogadores envolvidos).
Assim, os jogadores em conluio podem conseguir fazer com que jogadores disciplinados façam folds que seriam considerados bons folds em jogos legítimos, mantendo-se simplesmente em jogo e forçando-os a preocuparem-se com múltiplos ranges de mãos de poker.
A título de exemplo, compara as duas seguintes mãos:
Mão 1:
Batoteiro 1 aposta 100 (em bluff)
Batoteiro 2 faz fold
Hero faz call com top pair ou segundo par.
Vs
Mão 2:
Batoteiro 1 aposta 100 (em bluff)
Batoteiro 2 faz raise (sabendo que o Batoteiro 1 fará fold e o Hero precisará de uma mão mais forte para continuar)
Hero faz fold a um par médio forte ou top pair fraco (e tem muito menos probabilidade de também fazer bluff)
Jogar contra jogadores em conluio uns com os outros é um pouco como aquela cena no Matrix 2, onde Neo tem de lutar contra milhares de Agentes Smith. Ainda que com uma vantagem de habilidade surreal, Neo teve de fugir devido à desvantagem numérica. É o mesmo nas mesas de poker, e mesmo que consigas sair por cima, a desvantagem fará com que ainda assim ficasses muito abaixo do EV que a tua habilidade merece.
As boas notícias? É difícil fazer collusion no poker hoje em dia. Os sites de poker online implementaram algoritmos complexos que monitorizam comportamentos suspeitos, e conseguem rever mãos previamente jogadas caso tenham suspeitas. Equipas dedicadas ao controlo de fraudes podem descobrir conflitos de endereços de IP e até se programas de partilha de ecrã estão a correr em conjunto com o software de poker.
Da mesma forma, os casinos ao vivo estão carregados de câmaras, e se alguém for suspeito de estar a fazer conluio, pode ser secretamente observado pelo casino. Não será possível ver as cartas em jogo como no poker online, mas se houver conluio, é difícil escondê-lo assim que os jogadores em causa estejam a ser observados.
Muitos dos grandes jogos são transmitidos na TV, o que torna mais difícil fazer batota no poker, pois a probabilidade de alguém reparar aumenta. Não que isso impeça algumas pessoas de tentarem fazê-lo, como aconteceu há alguns anos com Rossi e Pasqualini na Partouche Poker Tour.
Esse caso é um excelente exemplo de conluio no poker:
3: Cartas Marcadas e Superutilizadores
Uma coisa é saber quais cartas o teu cúmplice tem, outra é saber exatamente o que todos os outros no jogo estão a segurar. Os superutilizadores (ou superusers) e os marcadores de cartas têm uma coisa em comum: conseguem fazer exatamente isso.
Um 'superuser' é um jogador que tem acesso a uma conta que pode ver as cartas ocultas de todos online. Estas contas são reservadas para uso interno pelos funcionários do cliente de poker. No entanto, houve um famoso escândalo na Ultimate Bet há algum tempo, onde um jogador chamado "potripper" teve acesso a uma conta de superuser. Felizmente, ele não foi inteligente o suficiente para ser discreto e foi apanhado. Como é fácil ver se uma conta de superuser está ativa, são simples de detetar pelos sites de poker.
Um marcador de cartas é um pouco mais habilidoso. Ao contrário de um utilizador de um cold deck, estes batoteiros têm de tocar nas cartas já em jogo antes de poderem fazer batota. Existem várias formas de marcar cartas, como usar tinta especial e óculos para marcar o verso das cartas, ou simplesmente dobrá-las de uma maneira conhecida apenas por ti. Os marcadores de cartas têm níveis autísticos de atenção. Os bons conseguem manipular as cartas de formas extremamente subtis que lhes permitem lê-las mesmo que estejam viradas para baixo.
Tal como deixar a tua conta de Instagram logada no telefone de um parceiro curioso, estes batoteiros conseguem ver tudo! É impossível vencer alguém que consegue ver as tuas cartas, mas, felizmente, este tipo de batota torna-se óbvio através de uma simples inspeção de cartas. Por isso, se suspeitares de jogo sujo, fala e pede um novo baralho. As penalizações por marcar cartas são severas e resultam numa proibição vitalícia imediata em quase todos os lugares.
O último caso bem conhecido disto foi em 2015, durante o evento heads-up de 10k nas WSOP, onde um jogador Moldavo chamado Valeriu Coca foi acusado de marcar cartas por alguns adversários bastante conhecidos. Posteriormente, foi ilibado de todas as acusações e recebeu o seu prémio. Portanto, as acusações podem ter sido apenas o resultado de um pouco de ressentimento por parte dos seus adversários derrotados. A chamada azia.
Bónus: Mike Postle
Com o Twitch e o live streaming a substituir o poker na TV nos dias de hoje, surge um potencial risco de batota e de sermos enganados enquanto jogadores.
Estas transmissões são alimentadas pelo envolvimento do público, que depende de se envolverem no conteúdo. Como nós, humanos, adoramos que as histórias tenham desfecho, é muito mais fácil manter a atenção do público quando as cartas são reveladas na transmissão, permitindo aos espectadores jogarem em conjunto e anteciparem o resultado.
Embora estas transmissões tenham atraso, os dados têm de ser gravados em tempo real, pelo que existe um risco óbvio de segurança associado à gravação das cartas dos jogadores. Com a tecnologia certa (e um sentido moral suficientemente flexível), alguém poderia, teoricamente, usar a informação em tempo real para se tornar num superuser ao vivo. E um homem chamado Mike Postle foi acusado de fazer exatamente isso.
Embora as provas pareçam bastante condenatórias, não podemos dizer com certeza que tal aconteceu. No entanto, se houver verdade nas acusações, isto representa uma enorme complicação no que toca às transmissões ao vivo.
Apesar das alegações dos casinos de que monitorizam os jogadores de perto e que o software é seguro, as imagens da transmissão parecem mostrar Mike a olhar para um dispositivo móvel no colo antes de tomar decisões incrivelmente precisas em potes cruciais ao longo de vários meses.
Juntando isso a um timing suspeitosamente impecável e uma mudança radical e imediata no seu estilo de jogo, parece mais provável que Postle esteja a fazer batota do que a receber inspiração divina através de olhares prolongados para as suas partes íntimas.
Joey Ingram faz uma ótima série de vídeos a analisar o caso no YouTube, para que possas ser tu a julgar o que aconteceu.
Esquemas no Poker – Conclusão
Há força nos números, e em qualquer limite ou nível, qualquer batota é repudiada mais do que o meu perfil no Tinder. De uma forma bizarra e contraintuitiva, o nosso jogo é baseado na integridade, e por isso não há necessidade real de te preocupares com a possibilidade de seres enganado ao jogar poker.
Não só é arriscado e raro, como as consequências são severas se fores apanhado, e por isso simplesmente não vale a pena o risco.
Significativamente, os jogadores não mentem, apenas fazem bluff no poker, e se alguém fosse apanhado a abusar das transmissões ao vivo (ou a fazer batota de qualquer forma), seria envergonhado em todas as mesas.
Para além disso, vale a pena lembrar que, tal como aconteceu no caso com Potripper, se alguém for suficientemente estúpido para tentar fazer batota, provavelmente não é inteligente o suficiente para se safar.
Boa sorte nas mesas!