Poker High-Tech: Jogadores Humanos Contra Inteligência Artificial

Aviso: O conteúdo aqui apresentado tem uma finalidade exclusivamente informativa sobre um tipo específico de jogo e como jogá-lo. O objetivo deste conteúdo não é nem promover nem disponibilizar um tipo de jogo, mas simplesmente informar o jogador acerca de como jogá-lo.

Homem contra máquina, a tecnologia moderna contra a mente e espírito humano!

Este cenário não é outra sequela do Exterminador Implacável. É uma série de desafios de poker onde humanos apostam e fazem bluff contra complexos computadores ao longo dos últimos anos.

Alguns programadores trabalharam para desafiar grandes jogadores de xadrez, damas etc. 

Empresas de tecnologia, criadores de software e programas de investigação universitários veem estes desafios como oportunidades.

Índice

1. High-Tech e High Stakes
2. O Polaris Define a Moda de Poker vs Computador
3. Claudico Entra em Jogo
4. Libratus Supera as Mentes Humanas
5. Pluribus e o Poker
6. O MIT Também Investiga IA Para Poker
7. Os Computadores e a IA Têm Uma Vantagem? E Isso É Importante?

A tentativa de derrotar humanos em jogos complexos tem uma longa história. Um dos primeiros esforços significativos chegou por parte da IBM na década de 1980. A empresa estava a trabalhar para desenvolver um computador que pudesse derrotar alguns dos mestres do xadrez.

Esses esforços culminaram no Deep Blue a batalhar com o grande mestre Russo do Xadrez, Gary Kasparov, em 1996.

Dessa vez, o humano saiu por cima, vencendo quatro partidas e perdendo duas. Os engenheiros de computação voltaram a trabalhar na máquina, fazendo revisões à mesma depois de aprenderem com a primeira série de jogos.

Kasparov voltou a batalhar contra o computador um ano depois e, dessa vez, o Deep Blue ganhou:

• Venceu três partidas
• Perdeu duas
• Empatou uma

Esta série de jogos foi um avanço no uso de inteligência artificial. E alguns programadores de computador e criadores de software viraram-se para o poker. Tal como o xadrez, o poker é um jogo de muitas possibilidades e decisões. Qualquer adversário virtual teria de “aprender” e adaptar-se.
 

“Ao contrário do xadrez ou gamão, nos quais os movimentos de ambos os jogadores são claramente legíveis no tabuleiro, um computador tem de interpretar as apostas do seu adversário apesar de nunca ter a certeza de que cartas ele tem”, escreveu o New York Times.

O poker oferecia um jogo com possibilidades infinitas e que poderia ser “derrotado” pela tecnologia. O mundo do poker tornou-se no último grupo de jogadores a considerar qual sairia por cima: o homem ou a máquina.

Um dos primeiros esforços significativos por parte da equipa “computadores” para quebrar jogadores de poker humanos ocorreu em 2007 na Universidade de Aberta, no Canadá. Os investigadores usaram vários bots de poker e programaram estratégias fixas.

O computador poderia escolher qual das estratégias usar quando estava envolvido numa partida de poker.

Ao longo de dois dias em Julho de 2007, Polaris batalhou contra os profissionais de poker Phil Laak e Ali Eslami no Hyatt Regency Hotel em Vancouver, British Columbia.

O desafio consistiu em quatro partidas duplicadas com 500 mãos distribuídas por partida. Num jogo idêntico, as mesmas cartas foram dadas aos jogadores humanos e a Polaris, mas com os lugares invertidos. 

Esta configuração garantia que ambos os jogadores tinham as mesmas cartas em diferentes ocasiões e a mesma oportunidade de jogar ambos os lados da mão. Também foi uma forma de reduzir a variância envolvida no poker ao longo de um prazo mais curto.

Laak tinha jogado contra uma versão anterior de Polaris chamada VexBot em 2005. Ele bateu o VexBot. Mas admitiu, posteriormente, que a sua vitória também se deveu a um pouco de sorte.

Como é que ele e o seu colega jogador humano se safaram neste desafio?

Os humanos conseguiram duas vitórias, um empate e uma derrota.
 

Uma versão mais forte competiu no Second Man-Machine Poker Championship em Las Vegas em 2008. Desta vez, Polaris provou ser um adversário muito mais difícil. 

No decorrer de seis sessões, Polaris conseguiu três vitórias, duas derrotas e um empate contra os humanos.

Cada sessão foi uma cópia exata de 500 mãos de poker contra dois adversários diferentes. Jogaram-se 6.000 mãos e Polaris acabou up 195 big blinds.

O sucesso do computador foi um sinal do que estava para vir. Investigadores trabalharam para melhorar a sua Inteligência Artificial e tornar uma máquina num adversário mais regular e formidável.

Tuomas Sandholm, professor na Carnegie Mellon University e alguns dos seus estudantes desenvolveram o programa de computador, Claudico AI. A equipa do Claudico tentou fazer com que o programa aprendesse independentemente em vez de ser pré-programado com várias opções estratégicas e alternativas.

Mas, na década de 2010, não era nada fácil fazê-lo. Eles precisavam de um supercomputador com 16 terabytes de RAM para concluir a tarefa.

“O Poker é agora uma referência para a investigação sobre inteligência artificial, assim como o xadrez já o foi”, disse Sandholm sobre o projeto.

“É um jogo de extrema complexidade que exige que uma máquina tome decisões com base em informações incompletas e muitas vezes enganosas, graças a bluffs, slow play, entre outros.”

Em Julho de 2014, Claudico ganhou um torneio de poker contra outros computadores, mas iria ser colocado à prova mais a sério contra humanos em 2015.
 

O computador jogou contra Dong Kim, Jason Les, Bjorn Li e Doug Polk numa série de partidas heads-up entre 24 de Abril e 8 de Maio.

• O computador Claudico batalhou em duas partidas ao longo de 750 mãos durante oito horas por dia, o que totalizou 20.000 mãos por jogador.
   
• O objetivo era fornecer uma grande amostra de mãos para tirar o fator sorte da equação, tanto quanto possível.
   
• 80.000 mãos tornaram-se no maior número de alguma vez jogadas entre humanos e computador.

Também havia algum dinheiro em jogo, com um prize pool de $100.000 doado pelo Rivers Casino e pela Microsoft. A ação até teve direito a streaming no Twitch. Os destaques da partida foram transmitidos na CBS Sports no Poker Night in America.

No final, os jogadores de poker ganharam a partir com uma pontuação coletiva de 732.713 fichas. Valores em dinheiro não estavam em jogo. No geral, o grupo de jogadores humanos provou ser dominante.

Após a partida, Polk disse que os programadores da AI ainda tinham trabalho a fazer com base na forma como o computador jogou o jogo.

“Em situações onde um humano talvez aposte metade ou três-quartos do pote, o Claudico apostava, por vezes, uns míseros 10% ou uns exagerados 1.000%.”, disse Polk à PokerNews. “Apostar $19.000 para ganhar um pote de $700 é simplesmente algo que uma pessoa não faria.”

As primeiras tentativas de criação de computadores que poderiam bater jogadores humanos acabaram por ser extremamente mal sucedidas. Jogadores habilidosos conseguiam encontrar deficiências na inteligência artificial da mesma forma que os melhores jogadores fazem em mesas de poker reais.
 

A AI não se conseguia adaptar ou alterar a forma de jogar à mesma velocidade que os jogadores humanos.

Em 2017, o departamento de ciências computacionais da Carnegie Mellon University tentou mudar isso mesmo. Eles queriam saber se Inteligência Artificial podia, de alguma forma, bater adversários humanos.

Recrutaram um grupo de quatro bons jogadores de poker para o desafio chamado “Brains vs Artificial Intelligence: Upping the Ante” no Rivers Casino em Pittsburgh, Pensilvânia. 

A inteligência artificial “Libratus” da Carnegie Mellon iria jogar contra os profissionais (Jason Les, Dong Kim, Daniel McAulay e Jimmy Chou) durante 20 dias.

Libratus destruiu os seus adversários.

Após 120.000 mãos de No-Limit Texas Hold’em heads-up, Libratus tinha sacado um total de $1.8 milhões aos seus adversários. Os cientistas envolvidos no desafio ganharam conhecimento sobre muito mais do que poker. Eles perceberam como a IA conseguia considerar situações com informação incompleta – o que é, sem dúvida, o caso num jogo de poker.

Ao utilizar o poker, os investigadores conseguiram melhorar a utilidade da IA. A equipa delineou alguns usos possíveis no futuro:

• Negociações comerciais;
• Estratégia militar;
• Cibersegurança;
• Tratamento médico e muito mais!

Muitos jogadores veem um bot de poker como batota e um aspeto negativo do poker online. Neste caso, Libratus provou ser um vencedor pelo avanço tecnológico.

“O computador não consegue ganhar no poker caso não consiga fazer bluff”, disse Frank Pfenning, chefe do Departamento de Ciência da Computação da Carnegie Mellon, à agência de notícias da universidade.

“Desenvolver uma IA que consegue fazê-lo com sucesso é um passo tremendo a nível científico e tem inúmeras aplicações. Imagine que o seu smartphone será, um dia, capaz de negociar o melhor preço para um novo carro para si. E isso é apenas o início."

Em 2019, os investigadores da Carnegie Mellon entraram de novo em ação, em parceria com o Facebook. Estavam esperançosos em obter sucesso em jogos de poker com mais do que um adversário.

O objetivo era a IA bater um jogo normal de poker contra alguns dos melhores jogadores de poker do mundo.
 

Desta vez, a equipa de ciências computarizadas da universidade estaria contra profissionais como:

• Jason Les
• Vencedor de seis braceletes World Series of Poker, Chris Ferguson
• Vencedor de quatro eventos World Poker Tour, Darren Elias

O Pluribus não poderia tentar prever o final do jogo. Jogar poker contra vários adversários significava que era necessário ser capaz de raciocinar em tempo real.

Noam Brown, cientista do Facebook AI Research e um dos criadores do Pluribus, disse ao Wall Street Journal:

"Poker com vários jogadores é mais considerado uma forma de arte que requer uma infinidade de habilidades, especialmente a capacidade de ler as interações humanas e aproveitar esse conhecimento para explorar erros e fraquezas”, dizia no Journal.

Ao contrário dos seus antecessores, o Pluribus desenvolveu a sua própria estratégia. Chegou mesmo a usar bluffs ao “ver” triliões de mãos ao batalhar contra os seus cinco adversários. Os jogadores não conseguiam combinar o conjunto de dados e a análise da máquina e do software. E mesmo os melhores jogadores de poker enfrentam deficiências físicas após longas horas na mesa.

“Uma boa IA tem uma vantagem ridiculamente injusta contra os humanos: ela não se cansa”, disse o jogador do Pluribus e profissional de longa data Michael Gagliano ao Journal. “Eles não têm fome. Não lidam com emoções.”

No final, o Smithsonian disse que Pluribus “ganhou uma média de cerca de $5 por mão, ou $1.000 por hora, enquanto jogava contra cinco adversários humanos.”

Não é uma run assim tão má, certo?

Carnegie Mellon e a Universidade de Alberta não foram as únicas universidades a usar o poker como ferramenta de avanço tecnológico. O Massachusetts Institute of Technology (MIT) organiza um torneio de poker entre bots. 

Tal como referimos anteriormente, bots não são permitidos em grande parte dos sites de poker online.

Mas estes bots têm como fim o avanço tecnológico e a investigação que envolve programação, criação de software, inteligência artificial e mais.

O evento anual conta com equipas de um a quatro estudantes de programação. Elas jogam umas contra as outras e descobrem qual a criação com a melhor habilidade nas mesas de poker.

“O poker, como jogo de informação incompleta e incerteza, é uma excelente aplicação de conceitos de teoria de jogo e habilidades de tomada de decisão que são essenciais para o trading”, diz no site do torneio.

“Enquanto os traders tomam decisões de risco com base nas informações limitadas que obtêm dos mercados, os jogadores de poker também tomam decisões com base em informações ocultas, levando em consideração fatores como valor esperado e distribuições de probabilidade.”

Os concorrentes também tentam “aplicar conceitos de economia, matemática e ciência computacional que normalmente não são desenvolvidos em conjunto em ambientes académicos para conquistar os seus oponentes e sair vitoriosos.”

Embora possa não ser as World Series of Poker, a competição pode tornar-se forte e atraiu vários patrocinadores ao longo dos anos. Cada equipa tem um mês para programar um bot de poker totalmente autónomo.

A competição de 2022 contou com mais de $40.000 em prémios. Também atraiu a atenção de empresas de tecnologia e trading quantitativo.

Parece que a tecnologia está a ganhar vantagem nestas batalhas mano-a-computador. E é natural, pois os computadores têm várias vantagens. 

• Em primeiro lugar, não há uma desvantagem financeira para a IA.
• Um adversário humano enfrenta consequências monetárias reais num jogo de poker.
• Um draw falhado para um computador não afeta a máquina ou o software.
• Um jogador de poker enfrenta implicações na sua vida face a uma sessão perdedora no mundo real.
• Eles também poderão ter de pensar no seu jogo a longo prazo em vez de na mão como algo único e separado de tudo o resto.

A falta de informação física por parte da máquina também é uma vantagem. Vários jogadores que participaram nas batalhas com a IA disseram:

Obviamente, a conversa na mesa também está fora de questão.

• Os jogadores não conseguem identificar tells verbais ou palavras audíveis que talvez possam ajudar a descobrir qual o tipo de jogo do computador.
• Os jogadores podem estar aos apalpões em situações mais complexas, especialmente contra algumas das melhores inteligências artificiais.

Mas, de forma mais ampla, é crucial lembrar que o poker é um jogo para jogadores humanos. Parte da diversão de jogar é usar a inteligência – ousar derrotar outros jogadores.

Ganhar é emocionante. Mesmo jogando online, está a lutar contra outros jogadores humanos.

A IA talvez tenha vantagem para já. Mas ganhar ou perder não faz diferença para um programa de computador. Uma IA conseguir derrotar um jogador aleatório não tem importância no mundo real do poker. Dirigir-nos ao balcão com mais dinheiro do que aquele com que começámos continua a ser satisfatório.

Derrotar outros humanos é sempre muito mais divertido.